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Além da verdade x ficção na mídia

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A alfabetização midiática é crucial para sociedades saudáveis. Associados do Rotary estão ensinando as pessoas a pensarem criticamente sobre o que veem e leem

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O primeiro dia em uma nova escola pode ser desorientador para qualquer adolescente. Mas o primeiro dia na Virginia Hall High School é ainda mais estranho. Seu avô afirma que costumava ser um espião, sua irmã acusa alguns alunos de trancá-la em um armário e todos dizem que um monstro está perambulando pelos corredores. 

O que está acontecendo? Será que tudo isso é verdade? Em vez de sair correndo para enfrentar o monstro, você lê sobre os estranhos acontecimentos recentes no jornal da escola. Você se pergunta: essas fontes fornecem várias evidências para suas afirmações? Elas poderiam estar ganhando dinheiro com o que estão dizendo? Tais histórias lançam uma luz negativa sobre as pessoas que discordam delas?

Você faz todas essas perguntas porque, na verdade, está jogando um videogame projetado para aumentar sua alfabetização midiática. Criado em parceria com Anahita Dalmia, do Rotary Club de Newport Beach, EUA, o jogo Agents of Influence está sendo desenvolvido para ajudar crianças de 11 a 13 anos a pensar criticamente sobre o que veem nas redes sociais e nas notícias. 

“Estamos ensinando as crianças a entender os vieses da mídia, as falácias lógicas e o viés de confirmação. Ensinamos coisas como a leitura atenta – ferramenta que você pode usar para determinar no que confiar on-line”, explica Dalmia, fundadora e CEO da desenvolvedora de jogos Alterea Inc.

Dalmia, que integra a terceira geração de rotarianos de sua família, diz que a abordagem do jogo foi inspirada, em parte, pela Prova Quádrupla do Rotary.

A primeira pergunta é: ‘É a verdade?’ E há uma razão para isso”, informa Dalmia. “Se não for a verdade, é impossível fazer um bom julgamento com base em qualquer outra pergunta porque você já começa com uma base instável.”

“Base instável” é uma maneira de descrever o estado atual do cenário da mídia. Especialistas dizem que estamos expostos a muito mais mídias do que nunca. Isso inclui tanto informações incorretas (inverdades não intencionais) quanto desinformação (falsidades deliberadas destinadas a enganar as pessoas). Embora muitos estabelecimentos sejam responsáveis e confiáveis, saber no que acreditar pode exigir tempo e esforço. 

“Antes da internet, se eu comprasse um jornal, sabia que ele era liderado por jornalistas para quem a verdade era um padrão importante. Claro que os jornais eram tendenciosos. Mas hoje em dia, as pessoas que querem acreditar em certas coisas apenas postam sobre elas”, diz Alan Dennis, professor de sistemas de internet da Indiana University. 

“Há campanhas de desinformação ativas de governos estrangeiros destinadas a influenciar os eleitores em países democráticos. Esses atores se tornaram muito mais sofisticados e aprenderam bastante sobre como as mensagens funcionam.”

As pessoas estão cientes desse problema e dizem que querem se tornar mais experientes sobre a mídia que consomem. Um estudo divulgado este ano descobriu que cerca de sete em cada 10 americanos estavam interessados em aprender a distinguir melhor entre informações verdadeiras e falsas on-line. Mas a alfabetização midiática é mais do que apenas separar o fato da ficção. 

“Precisamos ser capazes de julgar coisas como: ‘Qual é o viés por trás disso? Quem criou? Quem está se beneficiando com isso? Portanto, não há uma solução simples aqui”, afirma Jeff Share, professor da University of California, EUA, e coautor de “The Critical Media Literacy Guide” (Guia de Alfabetização Midiática Crítica, em tradução livre). “Precisamos desacelerar e investigar. Isso pode significar uns minutos adicionais, recorrendo a fontes diferentes. Também é possível reconhecer que algumas delas são mais legítimas do que as outras.”

A desenvolvedora de videogames Anahita Dalmia na Convenção de 2022 em Houston

Treinando contadores de histórias

“Muitas pessoas acreditam que vieses ideológicos e interesses financeiros guiam a cobertura feita pelas principais agências de notícias”, diz o bolsista financiado por Subsídio Global Alex Freeman, que está cursando mestrado em mídia e comunicação globais na London School of Economics and Political Science. 

“Essa é uma das grandes razões pelas quais as pessoas se voltaram contra a mídia, mas acho que é uma correção excessiva”, pontua Freeman. “Muitas pessoas recorreram a jornalistas independentes que estão mais dispostos a incorporar sua experiência pessoal nas reportagens. Mas sem um aparato de mídia tradicional – sem práticas padronizadas para garantir a precisão – fica difícil saber quem é confiável."

Ainda assim, as vozes independentes podem ser cruciais em lugares onde as organizações de mídia não têm financiamento ou são restringidas por governos repressivos. Quando Thomas Sithole, bolsista Rotary pela Paz, percebeu que sua cidade natal no Zimbábue era ignorada pelos principais meios de comunicação, ele criou uma estação de rádio comunitária. Em seguida, fundou o Zimbabwe Centre for Media and Information Literacy para ensinar as pessoas a pensarem de forma mais crítica e a contarem as suas próprias histórias de forma eficaz. Ele acredita que as duas habilidades estão interligadas. 

“Explicamos aos cidadãos como se armar contra a desinformação e as informações incorretas”, conta. O centro também treina adeptos do jornalismo cidadão e outros criadores de conteúdo, ensinando habilidades como verificação de fatos e garantindo o equilíbrio em uma história. 

“Estamos tentando construir um movimento em toda a região, pois vemos que não há apetite por parte dos nossos governos para promover políticas que apoiem a alfabetização midiática e informacional entre os cidadãos”, ressalta Sithole.

A ameaça da inteligência artificial

Mesmo ao treinar um exército de contadores de histórias, Sithole teme que a chegada da inteligência artificial facilite a criação e disseminação de desinformação.

“Para cidadãos desavisados, isso está criando muitos desafios”, diz. “Hoje, tornou-se muito difícil dizer se um conteúdo é verdadeiro ou falso, especialmente se for na forma de vídeos ou imagens. É realmente um desafio até para o jornalista profissional.”

Alguns acreditam que a chave é educar os consumidores de mídia mais jovens. Erin McNeill conhece muitos alunos por meio de seu trabalho como CEO da organização sem fins lucrativos Media Literacy Now, com sede nos EUA.

“A IA está definitivamente dificultando a identificação de fontes boas e confiáveis”, lamenta ela. Mas McNeill diz que as pessoas podem usar as mesmas habilidades para analisar tanto o conteúdo gerado por humanos quanto por IA.

“Os jovens são muito criativos e inteligentes. Estamos educando-os para que possam enfrentar o desafio”, esclarece. “Eles encontrarão soluções desde que recebam as habilidades e a educação de que precisam.”

A mesma crença anima Dalmia à medida que continua a desenvolver e promover o Agents of Influence. Ela apresentou o jogo a vários Rotary Clubs e espera que os rotarianos incentivem as escolas locais a usá-lo. 

“Isso começou como um projeto pessoal, mas havia uma enorme demanda de pais preocupados com a forma pela qual as mídias sociais estavam moldando as perspectivas e interações de seus filhos com o mundo exterior”, conta Dalmia. “O feedback estrondoso que recebemos foi: ‘Posso usar isso para o meu filho que acha que o TikTok é uma fonte confiável de informações?’”

Aprenda sobre o trabalho do Rotary para apoiar a educação e promover a paz.


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