Com o primeiro aniversário da invasão russa da Ucrânia se aproximando, Wen Huang, da revista Rotary, viajou à Europa para ver em primeira mão como os associados estão respondendo a essa crise humanitária. Na primeira de duas partes de seu relato, Huang visita a Polônia a caminho da Ucrânia.
A Fundação Rotária estabelece fundos específicos em apoio à Ucrânia.
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Terça-feira, 17h45, Varsóvia
Vejo a placa em forma de guitarra de um Hard Rock Cafe assim que saio da Estação Ferroviária Central de Varsóvia. Tiro uma foto e a envio para um amigo jornalista cuja esposa colecionava camisetas do Hard Rock Cafe de países que já foram comunistas. Ela e outros especialistas em cultura pop acreditam que existe uma forte relação entre o rock 'n' roll e a queda do comunismo no Leste Europeu. Do meu ponto de vista, a placa é um exemplo de uma declaração veemente da identidade moderna da Polônia.
Quando me viro para admirar o restante da paisagem central de Varsóvia, me deparo com o Palácio da Cultura e da Ciência, um enorme edifício de quase 250 metros de altura que continua sendo o segundo mais alto da Polônia. Com sua construção iniciada em 1952 e concluída após a morte de Stalin, esse arranha-céu de estilo soviético que lembra o Empire State Building foi um “presente” de Moscou para seu satélite rebelde. À noite, os poloneses iluminam o prédio em tons de amarelo e azul, as cores nacionais da Ucrânia, em solidariedade ao vizinho sitiado. Esse símbolo do passado comunista da Polônia tem vista para os shopping centers próximos, todos enfeitados com luzes de Natal e letreiros de neon que anunciam marcas de moda ocidentais.
São quase 20h e, embora eu esteja inspecionando os arredores em frente à estação de trem, minha atenção está voltada aos próximos dias. Em minha carreira como jornalista, já cobri crises internacionais, revoluções violentas e desastres naturais em diferentes partes do mundo. Por isso, eu queria visitar a Ucrânia para ver com meus próprios olhos as condições de milhões de ucranianos que vêm sofrendo e resistindo desde a invasão da Rússia no final de fevereiro de 2022.
Da minha casa em Chicago, acompanhei de perto as notícias sobre a guerra. Trabalhando para o Rotary, recebi relatos quase que diários sobre os esforços dos associados para ajudar os ucranianos, incluindo aqueles forçados a fugir para países vizinhos. Na revista Rotary, onde sou o editor-chefe, realizamos videoconferências semanais com associados do Rotary ucranianos e, nos primeiros três meses da invasão, acompanhamos como a Fundação Rotária arrecadou US$ 15 milhões para apoiar iniciativas que ajudam as pessoas afetadas pela guerra. Tudo isso só aumentou meu desejo de vivenciar em primeira mão o espírito de equipe do exército humanitário que está ajudando a Ucrânia.
Uma oportunidade inesperada de fazer exatamente isso surgiu no segundo semestre do ano passado, quando eu estava de férias em Berlim. Mykola Stebljanko, editor da Rotariets, revista regional do Rotary na Ucrânia, me convidou para visitar Lviv, a maior cidade do oeste da Ucrânia. Como Lviv fica perto da fronteira com a Polônia, ele sugeriu que eu me juntasse a ele e a outros associados do Rotary em um seminário da Fundação que aconteceria na cidade. Tudo o que eu precisava fazer era chegar a Varsóvia, e as demais peças se encaixariam a partir daí.
É por isso que estou aqui na capital polonesa nesta noite de outubro, sob a placa do Hard Rock Cafe, à espera de Paulina Konopka, a presidente fundadora do Rotaract Club de Warszawa City. Pola, como a rotaractiana de 30 anos gosta de ser chamada, me leva a um restaurante próximo, onde comemos uma pizza de pepperoni e ela me conta que estava em um avião rumo às Maldivas com sua família quando a guerra começou. Logo depois de desembarcar, ela entrou em contato com seus colegas rotaractianos em Varsóvia para discutir maneiras de ajudar. “Naquele primeiro mês, todo o nosso país, do governo às empresas, parecia ter parado para ajudar os refugiados na Polônia e as pessoas na Ucrânia”, afirma ela. “Como associados do Rotary, nosso instinto é querer ajudar."
Usando as redes sociais, os rotaractianos de Varsóvia pediram doações a amigos de outros países. Com o Rotaract Club de Wilanów International, o clube de Pola montou um abrigo de longo prazo em um subúrbio para cerca de 40 mulheres e crianças ucranianas, e organizou eventos sociais para os refugiados, incluindo gastronomia e festas no estilo discoteca. Os associados do clube os visitavam aos sábados, fornecendo vales-presente e levando-os para fazer compras. “Também nos reunimos todas as semanas para ensinar polonês e inglês aos refugiados e ajudá-los a se adaptarem à vida em seu novo país”, conta Pola.
Um mês após o início da guerra, a Polônia já havia acolhido cerca de 2 milhões de refugiados ucranianos. Aproximadamente 300.000 viviam em Varsóvia, mas muitos já retornaram ao seu país, incluindo cerca de metade das 40 pessoas que moraram no abrigo do Rotary. “Muitas pessoas simplesmente sentiam falta do seu país e dos maridos, irmãos e avós que ficaram para trás”, explica Pola. O fim de alguns subsídios para alimentação e transporte concedidos pelo governo polonês, bem como os altos custos de energia elétrica e alimentos como resultado da guerra, também podem ter contribuído para isso. Pola afirma que ela e seus companheiros rotaractianos continuarão ajudando aqueles que permanecem no país a encontrar emprego e aprender polonês.
Como a Rússia intensificou seu bombardeio de cidades ucranianas durante o segundo semestre de 2022, Pola explica que muitas pessoas poderão ser forçadas a fugir novamente para a Polônia, e os rotaractianos de Varsóvia “se prepararão para acolhê-los e ajudá-los”.
No bar do meu hotel, encontro Ed Zirkle, um rotariano de Ohio que é fotógrafo e documentarista. “Quando vi na TV as injustiças cometidas na Ucrânia, senti que precisava testemunhar e documentar isso”, explica ele, tomando sua vodca com gelo. Quando soube que o Rotary Club de Lviv estava organizando um seminário da Fundação, ele decidiu viajar para a Ucrânia, na esperança de se encontrar com associados do Rotary e convencê-los a viajar com ele pelo país. Seu pedido foi encaminhado a Mykola Stebljanko, que sugeriu que viajássemos juntos. Agora, Ed e eu estamos esperando as próximas instruções.
Quarta-feira, 10h15, Konstancin-Jeziorna
Na manhã seguinte, Jacek Malesa, ex-presidente do Rotary Club de Warszawa Fryderyk Chopin, nos convida a visitar um centro para refugiados estabelecido por Rotary Clubs em Konstancin-Jeziorna, uma cidade histórica ao sul de Varsóvia. Malesa, 58 anos, tirou folga do trabalho como auditor de uma empresa de mídia para nos acompanhar. De acordo com ele, fazer trabalho voluntário pelo Rotary é mais divertido.
O Centro Ucraniano de Apoio e Educação fica dentro de um prédio de concreto de três andares em uma rua tranquila perto do centro da cidade. Suas paredes foram recém-decoradas com borboletas de papel azuis e amarelas, confeccionadas para as crianças da Ucrânia por estudantes americanos em New Hampshire. Visitamos uma sala com móveis simples, onde duas meninas e quatro meninos estão sentados ao redor de uma grande mesa, desenhando olhos e narizes em uma folha de papel amarelo recortada em forma de mãos. Inicialmente um pouco tímidos, logo eles se sentem à vontade na nossa companhia e começam a conversar com entusiasmo. Só consigo pegar algumas partes do que eles dizem, pois os intérpretes têm dificuldade para acompanhar a conversa.
As crianças vieram das cidades ucranianas de Kiev, Kherson e Kharkiv. “Seus pais serviram no exército, e eles vieram para cá com suas mães e irmãos”, explica Malesa. “A separação de seus entes queridos é difícil para eles. Você deveria tê-los visto quando chegaram. Eles não eram receptivos aos cuidados e não se comunicavam. Os cuidados que prestamos melhoraram drasticamente a condição deles.”
No final da aula de desenho, os professores levam as crianças para um intervalo ao ar livre. Dentro de uma pequena quadra de tênis em um parque próximo, um menino vestindo uma jaqueta azul e um boné com os dizeres “I love Dad” vai para um canto e brinca com uma bola de futebol. Os olhos dele expressam certa tristeza. Uma mulher de suéter vermelho caminha até o menino e lhe dá um abraço apertado. A mulher, Luliia Cherkasbyna, de 36 anos, é a conselheira do menino. Ela veio de Kiev e está em Varsóvia desde o início da guerra. Em casa, ela orientava adolescentes autistas com dificuldades de socialização. “Gosto de trabalhar no centro rotário porque sinto que estou fazendo algo pelo futuro do meu país”, afirma ela.
Em junho, antes da inauguração do centro, os rotarianos convidaram conceituados psicoterapeutas de Israel para capacitar os psicólogos ucranianos no tratamento e na orientação de crianças. “Veja”, diz ela, apontando para as crianças, “elas estão sorrindo. É muito gratificante ver a diferença que o Rotary e outros poloneses de bom coração fizeram na vida dessas crianças."
Quarta-feira, 15h30, Varsóvia
Malesa nos leva a um restaurante tradicional polonês no meio da floresta. Enquanto comemos nossas tigelas de borscht e esperamos nossos pedidos de bife tártaro, pierogi e panquecas, Malesa me passa seu telefone celular. A chamada é de Michał Skup, presidente do Rotary Club de Warszawa Fryderyk Chopin, e ele tem informações sobre nossos planos de viagem: Zirkle e eu vamos para a cidade polonesa de Zamość, onde encontraremos rotarianos ucranianos que nos acompanharão na travessia da fronteira até Lviv daqui a alguns dias.
Como o clube de Skup leva o nome do meu compositor favorito, sugiro que, antes de partirmos para Zamość, nos encontremos no Parque Łazienki, no centro de Varsóvia, para tirar uma foto em frente à estátua de Chopin.
De óculos e vestindo um blazer azul-escuro e uma camisa branca, Skup, que é assessor jurídico da filial de Varsóvia de uma corporação internacional, esbanja elegância. Ele completou recentemente um passeio de bicicleta de 10 dias de Varsóvia à Toscana, na Itália, percorrendo cerca de 1.600 quilômetros para arrecadar dinheiro para comprar uma minivan para o centro de refugiados. Depois que descrevo minha visita ao centro, Skup – que passou boa parte de sua adolescência morando nos Estados Unidos – conta, em inglês, algumas histórias sobre a criação do centro.
O povo polonês ficou em choque quando a Rússia invadiu a Ucrânia, e muitas pessoas encheram seus tanques de gasolina, com medo de que talvez fosse necessário fugir se a Rússia também decidisse invadir a Polônia, lembra ele. “Minha esposa arrumou nossas malas e estava pronta para fugir se os russos viessem”, conta Skup. “Felizmente, nosso medo foi atenuado pela gentileza de tantas pessoas boas ao redor do mundo. Elas entraram em contato conosco pelos sites de nossos clubes, por e-mail e por telefone, perguntando como podiam ajudar."
Skup e outras pessoas formaram um grupo de trabalho que, no auge, chegou a incluir representantes de 14 Rotary Clubs ou distritos de todo o mundo. Eles realizavam videoconferências semanais para discutir maneiras de arrecadar fundos e oferecer ajuda humanitária. “No início, não tínhamos ideia de quanto tempo a guerra duraria”, explica Skup. “Muitos refugiados estavam em modo de espera, sem ideia do que fazer em seguida. Eles precisavam de apoio para tentar desenvolver resiliência e levar uma vida normal, principalmente as crianças. Como eu acreditava que essa guerra não terminaria rapidamente, sabia que precisávamos pensar em ajudar os refugiados de maneira sustentável.”
Em setembro, com a ajuda dos Subsídios para Assistência em Casos de Desastres da Fundação Rotária e com doações de empresas locais, pessoas e associados do Rotary da Alemanha, do Canadá, do Japão, da Coreia do Sul e dos Estados Unidos, o grupo inaugurou o centro. Foram contratados e treinados psicólogos, professores e um gerente para o centro – quase todos refugiados ucranianos – para oferecer aconselhamento e educação a crianças e outras pessoas traumatizadas pela guerra. “Toda essa situação é tão surreal para mim”, diz Skup. “Embora estejamos enfrentando tantas coisas ruins na Ucrânia, todas essas incríveis pessoas do Rotary vieram até nós por vontade própria, oferecendo sua ajuda. Esse nível de benevolência é simplesmente incrível.”
Durante a conversa, Skup menciona o nome de Alex Ray mais de uma vez. Associado do Rotary Club de Plymouth, EUA, Ray doou mais de US$ 300.000 ao centro. “Ele está na Ucrânia”, conta Skup. "Talvez você até o encontre."
Skup repetiu o que Pola havia me dito na noite anterior: mais pessoas poderão buscar refúgio na Polônia se a Rússia intensificar a guerra. Com isso em mente e com o benefício da doação de Ray, Skup e seus colegas do Rotary esperam assumir o compromisso de longo prazo de expandir o centro para oferecer creche, treinamento profissional, aulas de idiomas, ajuda psicológica e serviços médicos básicos para refugiados de outros países, incluindo Rússia e Bielorrússia. “Somos um clube relativamente pequeno, com 17 associados”, diz Skup. “No entanto, nosso compromisso de ajudar o próximo está gerando um aumento do quadro associativo, e em breve teremos pelo menos mais três novos associados.”
Em seguida, Skup faz uma pose em frente ao monumento de Chopin, abrindo os braços e segurando a bandeira de seu clube. Depois de tirar sua foto, eu estudo a escultura, erguida em 1926, destruída pelo exército alemão em 1940 e restaurada em 1958. É então que noto uma inscrição gravada no pedestal da estátua: “Chamas consumirão os retratos da nossa história, ladrões empunhando espadas saquearão nossos tesouros, mas a canção será salva.”
As palavras vêm de um poema de Adam Mickiewicz, considerado por alguns o maior poeta da Polônia, mas poderiam facilmente ter sido escritas sobre a Ucrânia.
Quinta-feira, 15h15, Zamość
A viagem de ônibus de Varsóvia a Zamość leva quatro horas e passa pelo interior da Polônia. Quando Zirkle e eu descemos do ônibus ao entardecer, o Google Maps indica que estamos a menos de 65 quilômetros da fronteira com a Ucrânia. A escuridão logo nos envolve, e o ar de outubro está impregnado com o cheiro de madeira queimada. Com a disparada dos custos de energia elétrica, muitas famílias daqui e de toda a Europa estão usando lareiras e fogões a lenha para aquecer suas casas.
Zamość foi construída em uma rota comercial medieval que ligava o oeste e o norte da Europa ao Mar Negro. Projetada pelo arquiteto italiano Bernardo Morando, a cidade foi invadida pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, apesar da valente resistência de seus moradores, muitos dos quais morreram. Depois de invadir a cidade, os nazistas reuniram sistematicamente os judeus para deportá-los aos campos de extermínio. Suspeito que essa trágica história de subjugação tenha contribuído para a incrível empatia que os habitantes da cidade vêm demonstrando durante a recente crise. Em uma reportagem de março, autoridades municipais afirmaram que cerca de 4.000 refugiados encontraram abrigo na cidade.
O hotel Morando fica na orla da encantadora e restaurada Praça do Grande Mercado, que se assemelha a uma praça italiana. No perímetro dessa praça perfeita, prédios renascentistas multicoloridos ficam lado a lado, com seus telhados lembrando a arquitetura do século XVI. Enquanto Zirkle e eu carregamos nossa bagagem para o suntuoso saguão, encontramos Alex Ray, como Skup já havia previsto. Depois de arrecadar US$ 1,3 milhão com a ajuda de amigos — toda a quantia destinada a financiar projetos humanitários na Ucrânia —, Ray quase equiparou essas doações com US$ 1 milhão de seu próprio bolso.
Gentil e modesto, Ray, proprietário da popular rede de restaurantes Common Man, em New Hampshire, está viajando com Steve Rand, companheiro de Rotary e seu amigo há 40 anos, e com suas sócias, Lisa Mure e Susan Mathison. Eles haviam acabado de voltar de sua segunda viagem à Ucrânia para identificar o que era mais urgentemente necessário, já que os ucranianos se preparavam para o início de um inverno escuro e gelado, agravado pela falta de energia elétrica.
“Em março passado, quando vimos imagens de tanques russos entrando na Ucrânia, a sensação foi imensamente opressiva”, lembra Rand, que tem 78 anos e é dono de uma loja de ferragens. “Foi como ver uma operação militar da Segunda Guerra Mundial em tempo real. Todas as máquinas de guerra estão sendo usadas contra uma população civil que tem pouquíssima capacidade de se defender sozinha.”
Acenando com a cabeça, Ray concorda. “Trata-se de uma agressão unilateral, desleal e injusta”, afirma ele. “Sentimos empatia pelos civis inocentes que estão enfrentando esta tragédia. É uma situação parecida com a das vítimas de furacões que ajudamos nos Estados Unidos, mas com uma diferença: não sabíamos como nossa ajuda poderia chegar à Ucrânia”.
Como Ray e Rand são associados do Rotary Club de Plymouth, EUA, eles encontraram a solução por meio da organização. “Decidimos usar nossa rede rotária na Polônia e na Ucrânia como um canal”, explica Ray. “Dessa forma, podemos garantir aos nossos doadores que o dinheiro vai diretamente para as pessoas na Ucrânia.”
Ray e seus amigos decidiram arrecadar dinheiro no estado em que moram. Seus esforços conquistaram o apoio de políticos locais, uma estação de rádio, um time de beisebol de uma liga secundária e organizações sem fins lucrativos da região, como a Granite United Way, que atuou como agente fiscal da campanha. Ray também envolveu os 850 funcionários de seus restaurantes, que distribuem cartões e panfletos aos clientes. “Estamos orgulhosos por vermos que New Hampshire, com uma população de 1,38 milhão, conseguiu doar cerca de um dólar por habitante do estado”, afirma Mure, sócia de Ray.
Alex Ray elogia seus novos amigos do Rotary na Polônia por sua generosidade sem limites. “Nossa organização — o Rotary — nos dá o poder de ajudar.”
Ray afirma que sua iniciativa está se expandindo para além de New Hampshire. Ele e seus amigos conduziram uma missão de reconhecimento na Polônia e na Ucrânia no meio do ano passado e identificaram seis projetos, incluindo o centro para refugiados inaugurado por Skup e seu clube, e uma unidade móvel para coleta de sangue adquirida pelo Rotary Club de Kraków para apoiar hospitais na Ucrânia. Eles compraram e distribuíram cerca de 700 toneladas de alimentos por meio de associados do Rotary em Zamość. “Agora estamos providenciando sacos de dormir e geradores”, diz ele. “Nosso sucesso só é possível por causa dos Rotary Clubs daqui. Eles conheciam a situação na Ucrânia e assumiram a responsabilidade de usar nossos fundos e levar a ajuda aonde ela é necessária.”
Sentindo-me um pouco nervoso com minha viagem iminente à Ucrânia, pergunto aos viajantes se eles se preocupavam com sua segurança. “Minha viagem em maio foi a primeira vez que entrei em uma zona de guerra”, responde Mathison. Costumo chamá-la de gerente de relações públicas do grupo, tamanho é seu entusiasmo para compartilhar sua história. “Sou apenas uma mãe normal de meia-idade e classe média. Nunca pensei que iria parar lá. Antes de partirmos para Lviv, nosso anfitrião avisou que haviam ocorrido bombardeios e perguntou se ainda queríamos ir. Pensei comigo mesma: há milhões de ucranianos que acordam todos os dias com os bombardeios e têm coragem para alimentar e vestir seus filhos e mantê-los seguros. Se eles encontram forças, é minha obrigação fazer isso por alguns dias e aproveitar essa experiência para ajudá-los em longo prazo.”
Em seguida, os quatro descrevem o que viram na Ucrânia: um centro de convenções e quartéis militares da era soviética convertidos em abrigos rudimentares para refugiados, um armazém improvisado coordenando entregas emergenciais de alimentos no leste da Ucrânia e um orfanato em ruínas que eles conseguiram ajudar a reconstruir. E Ray elogia seus novos amigos do Rotary na Polônia por sua generosidade sem limites: “Nossa organização — o Rotary — nos dá o poder de ajudar."
Sua viagem de outubro reforçou os temores de um inverno gelado para as crianças na Ucrânia. Ray e seus amigos voltaram à Ucrânia em meados de dezembro. Durante a viagem, ele se vestiu de Papai Noel e entregou 18 toneladas de alimentos, 1.000 sacos de dormir e 24 geradores, além de 1.300 kits de Natal, para orfanatos nas cidades de Lviv e Rivne.
Nossa entrevista poderia ter durado mais uma hora se o quarteto não tivesse sido chamado para jantar. Subo para o meu quarto no hotel e, quando entro, meu telefone começa a tocar. É Piotr Pajdowski, presidente do Rotary Club de Warszawa-Belweder. Ele pede para eu me aprontar: dois rotarianos chegarão ao hotel pela manhã e acompanharão a mim e ao fotógrafo na travessia da fronteira.
Às 9h, Vasyl Polonskyy e Hennadii Kroichyk entram no saguão do hotel, onde o quarteto de New Hampshire e um associado do Rotary de Zamość aguardam para fazer o check-out. Em meio a esse grupo de pessoas que não se conhecem, basta mencionar o Rotary para que qualquer barreira linguística ou cultural seja eliminada. Em pouco tempo, já estamos nos cumprimentando calorosamente como se fôssemos velhos amigos. As conversas estão tão animadas que deixamos todas as nossas malas juntas no piso do saguão.
Logo em seguida, nossa viagem tem início.
Antes de seguirmos rumo ao nosso destino, Polonskyy me mostra as partes mais belas de Zamość uma segunda vez para garantir boa sorte, algo que será necessário na nossa próxima parada: a Ucrânia.
Artigo publicado originalmente na edição de fevereiro de 2023 da revista Rotary. Na edição de março, Wen Huang conclui seu relato ao visitar Lviv, a capital cultural da Ucrânia e uma cidade sitiada. https://my.rotary.org/en/news-media/magazines/rotary.
Uma doação à Fundação Rotária direcionada ao Fundo de Assistência em Casos de Desastres ajuda comunidades em crise em todo o mundo.
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