Um novo manual para humanitários

Guia fornece roteiro para colaborações futuras entre dois parceiros de longa data

Por Geoffrey Johnson

Em junho, na Convenção do Rotary International em Houston, o ex-presidente do RI K.R. Ravindran teve uma conversa com representantes do Unicef. O tema foi a terrível crise econômica que deixou mais de cinco milhões de pessoas no país de Ravindran, o Sri Lanka, sem alimentos e remédios suficientes. Dessa conversa surgiu o Lifeline Sri Lanka, um projeto do Rotary e do Unicef para fornecer medicamentos, produtos de purificação da água, materiais educativos e outros itens para famílias do país.  

"O significado deste momento histórico está no fato de que essas duas prestigiadas organizações se uniram para ajudar uma nação em dificuldades", disse Ravindran quando o projeto foi lançado, em agosto. Em três semanas, a iniciativa havia recebido mais de US$ 70.000 em doações. 

Um aspecto dessa história é particularmente atraente para Stephanie Jacquier, especialista global em filantropia e parcerias do Unicef. "É uma ilustração de um rotariano conduzindo algo localmente, junto com o Unicef, em um país específico", diz ela, enfatizando a palavra localmente.

A história do Lifeline Sri Lanka é inspiradora, mas tal cooperação não é uma raridade. Em todo o mundo, Rotary e Unicef, que estão presentes em mais de 190 países e áreas geográficas, trabalham juntos em questões relacionadas ao desenvolvimento global, à ajuda humanitária e à paz. A parceria remonta a 1988, quando as duas organizações se uniram à Organização Mundial da Saúde e ao Centro Norte-Americano de Controle e Prevenção de Doenças como membros fundadores da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI), da qual também fazem parte a Fundação Bill e Melinda Gates e a Aliança Gavi. 

"Rotary e Unicef têm um longo histórico de trabalho conjunto bem-sucedido, começando com a nossa parceria para proteger as crianças da pólio e passando por outros programas prioritários por meio dos quais desenvolvemos conjuntamente nossos pontos fortes únicos", diz Michael Nyenhuis, presidente e CEO do Unicef USA. 

Mark Daniel Maloney, ex-presidente do RI e atual curador da Fundação Rotária exalta a "confiança mútua" entre as duas organizações. "Quando colocamos recursos financeiros nas mãos do Unicef, quando direcionamos fundos aos programas que o Unicef está desenvolvendo para a erradicação da pólio, sabemos que eles serão bem utilizados." 

Pensando no futuro, as organizações elaboraram uma nova abordagem, introduzida por um manual intitulado Local Collaboration Framework (Estrutura de Colaboração Local), que se destina a ampliar e intensificar seu impacto coletivo. "A estrutura é um guia abrangente para os Rotary Clubs trabalharem em colaboração com o Unicef para identificar e atender às maiores necessidades locais", diz Nyenhuis. 

"É um convite para criar sinergia e alavancar os esforços do Rotary", acrescenta Maloney. "O Rotary pode oferecer seu trabalho local, e o Unicef pode fornecer sua experiência."

Para implementar melhor esta nova abordagem, representantes de ambas as organizações colaboraram para criar o que Maloney chama de "roteiro para expandir nosso relacionamento com o Unicef". Rose Cardarelli, do Rotary Club de Washington Global, Washington, D.C., e representante do RI no Unicef/Nova York, assumiu um papel de liderança nesse processo. "A colaboração incluiu a identificação conjunta de países com representação tanto do Rotary quanto do Unicef, o estudo de projetos conjuntos em potencial considerados anteriormente, e o levantamento e realização de entrevistas pessoais extensivas com associados do Rotary e funcionários do Unicef", diz ela. "Era importante ter a participação global por meio de uma representação regional."

O processo começou no último trimestre de 2020 e, no decorrer de um ano, evoluiu para uma análise quantitativa e qualitativa de duas etapas. "Não queríamos nos apressar; queríamos fazer as coisas da forma certa", diz Jacquier. "Sabíamos que era importante, primeiramente, coletar dados da 'plateia', porque, uma vez que conhece seu público, você está mais bem-posicionado para atender às suas necessidades."  

Todo esse trabalho preliminar resultou em um manual de 64 páginas que fornece orientações claras e úteis, normas, modelos e outras ferramentas para capacitar o Rotary e o Unicef a trabalhar juntos localmente (veja "10 passos para o sucesso", à direita). "É um guia que fornece um método viável a ser seguido para que os associados do Rotary e funcionários do Unicef possam iniciar discussões para projetos conjuntos", diz Cardarelli. "Ele aborda melhores práticas, métodos de colaboração e facilitação de parcerias. É um documento dinâmico, ou seja, os métodos podem ser aperfeiçoados à medida que novos trabalhos forem realizados.” 

Jacquier endossa essa abordagem. "Devemos ter sempre a intenção de continuar aperfeiçoando a ferramenta", diz ela, acrescentando que seria uma boa ideia rever coletivamente o manual de forma periódica para fazer ajustes que reflitam a evolução das necessidades. 

O manual foi apresentado em março, na cidade de Nova York, no Dia do Rotary com o Unicef. Ele está sendo distribuído aos escritórios do Unicef e disponibilizado aos distritos e clubes pelo Meu Rotary – embora alguns associados não tenham esperado pelo manual para iniciar projetos de colaboração. Agora que o manual está disponível, Maloney tem algumas ideias sobre os caminhos que a parceria pode explorar. Entre elas está o "empoderamento de meninas", que foi o foco do Dia do Rotary com o Unicef deste ano. "Isso daria continuidade a um tema que o ex-presidente do RI Shekhar Mehta adotou e que a presidente Jennifer Jones está continuando", diz Maloney. "O Unicef está bem-posicionado para implementar programas de empoderamento de meninas – e a saúde materno-infantil [uma das sete áreas de enfoque do Rotary] também se enquadra nesse escopo." 

Assim como Jacquier, Maloney vê o manual como uma ferramenta para ajudar no alcance desses ambiciosos objetivos. Mas ele também entende que é apenas isso: uma ferramenta, ou, como ele disse, um roteiro. "O manual não é o resultado final", diz Maloney. "O resultado final são os serviços e os projetos implementados com base no manual." É hora dos associados do Rotary e do Unicef seguirem esse roteiro juntos rumo ao futuro. 

Artigo publicado na edição de novembro de 2022 da revista Rotary.