Associados do Rotary têm como objetivo erradicar o tráfico humano
O combate ao tráfico humano, que afeta cerca de 40 milhões de pessoas no mundo, é o objetivo do Grupo Rotary em Ação contra a Escravidão e de vários Rotary Clubs focados em causas.
Quando Dave McCleary ouviu falar do tráfico de pessoas pela primeira vez, ele achou que aquilo era uma coisa distante, que provavelmente acontecia no exterior. Mas não nos Estados Unidos. E certamente não na sua cidade natal.
Então, um dia, ele convidou uma palestrante que tinha uma perspectiva diferente para fazer uma apresentação em seu Rotary Club, em Roswell, no estado da Geórgia. Seu nome era Melissa. Ela era da cidade e havia estudado na mesma escola do ensino médio que as filhas de McCleary. Melissa abandonou os estudos aos 16 anos porque recebeu uma proposta para trabalhar como modelo de alguém que, na verdade, era traficante da indústria do sexo. Durante dois anos, ela foi aprisionada e traficada no centro de Atlanta, antes que a polícia e uma organização local a ajudassem a fugir.
Após a reunião, outro rotariano se aproximou de Melissa e lhe deu um grande abraço. McCleary perguntou como ele conhecia a jovem. O associado respondeu que ela tomava conta de seus filhos quando tinha 12 anos, e que ele não sabia o que havia acontecido com ela.
"Para mim, foi então que a situação se tornou real", diz McCleary, que hoje preside o Grupo Rotary em Ação contra a Escravidão. "Aquilo não era mais um problema de outra pessoa. E eu me lembro de pensar na época: ‘Rotary – presente em 200 países, com 34.000 clubes e 1,2 milhão de associados, e dedicado a resolver questões difíceis. Por que não a escravidão?’".
Dos diversos problemas globais, o tráfico de pessoas (ou escravidão moderna, como às vezes é chamado) é um do mais difíceis de combater. Estima-se que mais de 40 milhões de pessoas sejam traficadas em todo o mundo. "É provavelmente a maior atrocidade com relação aos direitos humanos hoje em dia", afirma Karen Walkowski, fundadora do Rotary Club de District 5950 Ending Human Trafficking. "Afeta mais pessoas do que todos os refugiados e todos os deslocados somados. É uma das três maiores indústrias ilegais, gerando cerca de US$ 150 bilhões em receitas por ano."
"Eu peço às pessoas para pensarem em Nova York, Londres ou qualquer grande cidade do mundo", explica Sujo John, fundador da YouCanFreeUs, uma entidade sem fins lucrativos que tem parceria com Rotary Clubs. "Depois, digo para multiplicarem a população dessas cidades por seis ou sete. Este é o número de pessoas que foram sequestradas ou enganadas, ou que ouviram promessas de que se fossem para tal cidade, ou mesmo outro país, teriam uma oportunidade melhor."
Dos diversos problemas globais, o tráfico de pessoas é um do mais difíceis de combater. Estima-se que mais de 40 milhões de pessoas sejam traficadas em todo o mundo.
O tráfico sexual é um tipo de escravidão moderna, mas existem outros que se enquadram na categoria de "tráfico de mão de obra", no qual as pessoas se veem presas a empregos nos setores de silvicultura, agricultura, restaurantes, feiras ou vendas de assinaturas de revistas por equipes itinerantes de jovens, e não têm permissão para abandonarem tal situação.
"As pessoas me perguntam onde a escravidão acontece nos Estados Unidos", conta John. "Passe de carro por qualquer cidade daqui tarde da noite. Se você vir um letreiro de neon que diz 'massagem', é provável que lá seja onde a escravidão esteja acontecendo. Pode haver mulheres estrangeiras mantidas no local contra sua vontade e forçadas a prestar serviços sexuais."
Mark Little, do Rotary Club de Norwich St. Edmund, na Inglaterra, não sabia de nada disso até que sua esposa o convenceu a assistir a um documentário da BBC sobre o assunto. "Eu pensei: 'Escravidão nos Estados Unidos? Certamente não. Escravidão no Reino Unido? Nunca. Milhões de escravos na Índia?'".
Mas lá estavam eles.
Em números
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40.3 milhões
Pessoas em situações de trabalho forçado, exploração sexual, servidão doméstica e casamentos forçados no mundo
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4750
Dólares ganhos por segundo com o trabalho forçado
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71
Porcentagem de pessoas em trabalhos forçados que são mulheres ou meninas
Fonte: International Labour Organization
"Aquilo realmente me abalou", diz Little. "Depois de quatro meses, eu fui à Índia para visitar dois dos centros de reabilitação de escravidão infantil que foram apresentados no documentário. Ouvi o testemunho de alguns dos sobreviventes que encontrei naquela primeira visita, os quais estavam no processo de reconstrução de suas vidas. Pensei: 'Meu Deus, o que está acontecendo no mundo? Temos que fazer algo a respeito!'"
Little fundou o Grupo Rotary em Ação contra a Escravidão, que tem 675 membros em 49 países, e cujo boletim informativo chega a cerca de 3.800 pessoas.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, pelo menos três novos clubes baseados em causas foram formados para combater o tráfico de pessoas. Além do clube de Walkowski, existe o Rotary Club de Community Action Against Human Trafficking, que foi fundado no Kansas, e o Rotary Club de Pacific Northwest Ending Sex Trafficking, com sede em Seattle.
Este último foi fundado por Virginia McKenzie depois que o representante de uma organização antitráfico local deu uma palestra em seu antigo clube, o Rotary Club de Seattle, sobre um anúncio falso que colocava uma criança de 15 anos à venda para fins sexuais. Em duas horas, eles receberam 250 ligações, a maioria de empresas do centro de Seattle. "Ficamos chocados", diz McKenzie. "Para mim, foi como se tivesse sido atingida por um raio. Instantaneamente senti raiva, medo e tristeza profunda, tudo ao mesmo tempo."
Durante vários anos, McKenzie trabalhou na Comissão de Consolidação da Paz de seu clube fazendo projetos relacionados ao tráfico. Entre outras coisas, eles treinaram 1.000 profissionais de saúde para detectar sinais de que alguém estivesse sendo traficado (como tatuagens de identificação, escoltas hipervigilantes, desconhecimento da cidade em que está ou de que dia é) e como responder de forma apropriada a traumas e em conformidade com a HIPAA (Lei de Portabilidade e Responsabilidade de Seguro Saúde, nos EUA). Mas ela queria fazer mais. Então, fundou o novo clube no ano passado, com 25 associados – a maioria deles rotarianos novatos, juntamente com vários que haviam deixado o Rotary anteriormente.
"Este é um tópico que está muito em alta", afirma ela. "É como se o mundo inteiro estivesse acordando. Estou muito orgulhosa do Rotary por assumir essa responsabilidade e me sinto otimista quanto ao papel que os rotarianos podem desempenhar para causar impacto."
Outros clubes também têm tomado providências. O clube de McCleary organizou um treinamento para ajudar motoristas de ônibus escolares a reconhecerem sinais de tráfico humano e aprenderem a intervir. Um companheiro do clube, que era dono de um McDonald's, tinha o número da Central Nacional de Atendimento a Vítimas de Tráfico Humano impresso nas bandejas, o que resultou no resgate de cinco meninas em um mês.
Em Sacramento, na Califórnia, houve um importante programa educacional patrocinado pelo Rotary, e no sul do estado, mais de duas dúzias de clubes aderiram à iniciativa de combate ao tráfico de pessoas. Enquanto isso, o Rotary Club de Community Action Against Human Trafficking recebeu vários Subsídios Globais para criar um centro de atendimento às vítimas em Topeka, Kansas, e um plano para educar as pessoas sobre como identificar pessoas exploradas. E em fevereiro, o Conselho Diretor do RI aprovou uma resolução contra o tráfico humano que incentiva os associados a se familiarizarem mais com o crescente problema da escravidão moderna e a trabalharem para encontrar soluções.
Algumas histórias de sucesso não são sequer relacionadas a projetos: uma rotariana da Argentina recebeu uma mensagem de uma mulher no México que conhecia através de sua rede de grupos ativistas. A mulher soube de uma garota que estava sendo traficada no estado de Michoacán, onde foi acorrentada a uma cama e torturada. A rotariana argentina falou com o Grupo Rotary em Ação contra a Escravidão. Membros do grupo entraram em contato com seus conhecidos na Cidade do México, e a garota foi libertada em 24 horas.
"Esse é o tipo de impacto que o Rotary pode causar", diz McCleary, acrescentando que ele quer que o Rotary faça ainda mais. "Acreditamos que este é um movimento, não apenas uma série de projetos."
Este artigo foi publicado na edição de julho de 2022 da revista Rotary.