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A Conectora

A presidente eleita Jennifer Jones está pronta para conduzir o Rotary a um futuro repleto de dinamismo e diversidade

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O escritório da presidente eleita Jennifer Jones, na sede mundial do Rotary International em Evanston, estado de Illinois, EUA, é diferente dos de seus antecessores. Contudo, isso não se deve ao fato de que em 1º de julho ela se tornará a primeira mulher a presidir o Rotary. Na parede está pendurado um presente que recebeu de um amigo — um mapa no qual Jennifer poderá marcar todos os destinos que visitar nos próximos dois anos. Estamos em setembro de 2021, dois meses após ela assumir o cargo de presidente eleita. Até agora só Chicago está marcada no mapa, pois muitos eventos foram cancelados ou adiados devido ao aumento dos casos de covid-19. Hoje, Jennifer é a única pessoa no 18º andar do prédio One Rotary Center. Não há telefones tocando, nem barulho de dedos digitando nos teclados. Está tão deserto que se déssemos cambalhotas ninguém notaria.

Jennifer recebeu Diana Schoberg, a redatora sênior da revista Rotary, e Geoffrey Johnson, o editor sênior, cumprimentando-os com um toque de cotovelos. E, sentados longe uns dos outros, eles falaram sobre a sua visão para o próximo ano. “Quando lembramos o quanto o Rotary pode mudar e influenciar o mundo, nós nos damos conta de que somos mais do que um clube”, diz Jennifer. “Somos um movimento!”

Associada do Rotary Club de Windsor-Roseland, Jennifer é presidente e CEO da Media Street Productions Inc. em Windsor, Ontário, Canadá. (Seu marido, Nick Krayacich, é ex-presidente do Rotary Club de La Salle Centennial e foi recentemente selecionado como governador indicado do Distrito 6400.) A sua empresa faz produções de rádio e televisão, vídeos corporativos e sem fins lucrativos, e organiza shows ao vivo. 

Um dos principais objetivos da sua presidência é usar sua experiência na mídia para elevar o perfil global do Rotary. Jennifer está planejando o que ela chama de “Excursão de Impacto Imagine” para mostrar ao mundo vários projetos sustentáveis de grande escala em cada uma das áreas de enfoque do Rotary. “Eu vejo isso como uma chance de aumentar nosso quadro associativo”, diz ela. “Quando contamos nossas histórias, aqueles que pensam como a gente vão querer se juntar a nós.”

Rotariana desde 1996, Jennifer teve papel de destaque no reposicionamento da Marca Rotary, como presidente do Grupo Consultivo de Fortalecimento do Rotary. Ela é copresidente da Comissão Elimine a Pólio Agora: Contagem Regressiva para Entrarmos para a História, incumbida de levantar US$ 150 milhões ao combate à doença. Jennifer também liderou o Teleton #RotaryEmAção de 2020, evento virtual assistido por mais de 65.000 pessoas que arrecadou fundos para o enfrentamento da pandemia de covid-19.

Entre tópicos sérios, como a projeção da imagem do Rotary e seus esforços em prol da diversidade, equidade e inclusão, falamos também sobre o apelo retrô do programa de televisão dos anos 80 The Golden Girls (seu aspecto social é relevante até hoje, acredita Jennifer) e sobre festas dançantes (“Sempre que uma boa música toca, é difícil não entrar no ritmo”, diz ela). Já quase no final da nossa conversa, Jennifer recebeu uma mensagem do seu pai com apenas uma palavra, "passei". Com quase 80 anos de idade, ele ainda está na ativa e queria que ela soubesse que ele tinha passado no teste anual feito pela empresa em que trabalha. 

"Ele é um querido", disse ela com um largo sorriso. Alguns dias antes, seu pai lhe enviara uma mensagem com um emoji de coração e a pergunta “Como anda a sua missão de consertar o mundo?”. Com o apoio da família Rotary, Jennifer está no caminho certo para isso.

Você será a primeira mulher presidente do Rotary. O que isso significa para a organização?

Quando fui selecionada, embora o processo tenha sido virtual, todos na “sala” falaram sobre algo que foi dito durante a entrevista. Enfatizaram que fui selecionada por minhas qualificações e não pelo meu gênero sexual. Eu também não estava focada na questão de gênero durante a entrevista. No entanto, acho que para a organização este quesito vem a ser extremamente significativo. Diversidade, equidade e inclusão são muito importantes não apenas para o Rotary, mas para o mundo todo. Talvez minha indicação esteja acontecendo no momento certo. 

Quando fiz meu discurso de aceitação na Convenção Virtual de 2021, falei sobre a minha sobrinha de 10 anos. Ela me deu um desenho de si mesma que incluía as palavras: “Diferente é sempre melhor. Diferente sou eu.” Eu adorei e fiquei muito orgulhosa dela dizer isso, tanto que terminei o discurso repetindo suas palavras. Ser diferente nunca é motivo para se desculpar. A diversidade é um dos nossos valores fundamentais e acho que esta é outra forma de colocar isso em prática. Levou só 117 anos para isso acontecer!

O que significa diversidade para nossa organização?

Há diversidade no mundo rotário, mas será que há diversidade em nossos clubes? Quando temos diversidade de pensamento, de idade, de cultura, de gênero e de profissão, nós temos uma grande vantagem. Esse é a nossa arma secreta. É isso que nos permite resolver as coisas de maneiras inusitadas. Somos focados na nossa vasta experiência.

E sempre haverá clubes que dirão: “Não precisamos mudar nada. Já entendemos bem o que é diversidade". Talvez eles entendam mesmo, talvez não. Mas acredito que nossa organização está em posição vantajosa para ter esse tipo de conversa nos tempos de hoje. Por sermos apolíticos e não religiosos, podemos ter esse tipo de diálogo e fazê-lo em um espaço seguro onde reine o respeito entre todos.

Como você redefinirá o papel de presidente do Rotary?

Não sei se estou chegando na presidência com uma perspectiva de mudança. Estou focada mesmo em como podemos ser uma organização relevante nos tempos modernos, em como fazer coisas de modo proativo e positivo para o nosso futuro.

Pode ser que seja uma mudança em relação ao que temos buscado nos últimos anos, em termos de atrair grupos demográficos específicos. Talvez precisemos caminhar de maneira mais audaz e autêntica. Se queremos que mais mulheres se juntem à nossa organização, e olhe que os resultados disso tem sido insignificantes, talvez esta seja uma oportunidade para inspirar outras mulheres a pensar: “Se a Jennifer chegou lá, eu também posso”. Se desejamos ter associados jovens, e pensadores jovens, precisamos exibir esse desejo. Precisamos mostrar por que é importante para eles se juntar a nós, e garantir que estejamos dando oportunidades para eles se envolverem em coisas significativas dentro da nossa organização.

O que eu mais espero trazer de diferencial não é meu gênero, mas a comunicação. Como vamos comunicar aos nossos associados e aos demais membros da nossa família Rotary que ser diferente é uma coisa boa e não muda a essência de quem somos. Nosso DNA permanece o mesmo. Nossos valores fundamentais continuam os mesmos. São coisas que não saem de moda. Mas será que não podemos olhar agora para as coisas a partir de uma outra perspectiva?

Você mencionou associados jovens e pensadores jovens. Qual é a diferença entre estes termos?

Você já conheceu um jovem de 25 anos que pensa e age como alguém mais velho? Acho que todos nós conhecemos alguém assim. E uma pessoa de 86 anos com espírito jovem? Com certeza, todos nós conhecemos alguém assim também. Por isso me refiro a jovens pensadores. É algo que faz sentido onde quer que eu esteja no mundo.

Ao abraçarmos a nossa vocação de sermos pessoas em ação, injetamos ainda mais energia na nossa alegria de viver. Nós abraçamos os desafios. Nós agimos. É sobre isso que eu penso quando me refiro a jovens pensadores. Somos aqueles que fazem as coisas acontecerem local e mundialmente.

Temos uma oportunidade incrível de aproveitar o que eu gosto de chamar de mentoria cruzada. 

Uma grande ideia pode vir de alguém com uma vasta experiência ou de alguém que ainda não teve suas ideias moldadas e limitadas dentro de uma caixinha. Quando penso em participantes mais jovens na nossa organização, eles me dão esperança de que podemos ver as coisas com novos olhos e estar em constante estado de evolução.

Vou dar um exemplo bem amplo e generalista: se você tem uma grande ideia e a passa para um Rotaract Club, em poucos dias eles já têm um plano de ação. Eles lançam algum tipo de campanha nas redes sociais. Eles se conectam com parceiros. Fazem um monte de coisas. Eles agem muito rápido. Por outro lado, se você passa tua ideia para um Rotary Club, o que fazemos? Formamos uma comissão e fazemos reuniões sem fim.

Não estou menosprezando essa abordagem mais cautelosa e deliberada; digo isso em tom de brincadeira. Mas a burocracia às vezes emperra as coisas e nos leva a uma morosidade desnecessária, o que é frustrante. 

Abrimos oportunidades quando trabalhamos com um grupo demográfico mais jovem. Eles apenas fazem as coisas de forma diferente. E acho que isso é algo que realmente podemos aprender com eles.

Você é uma contadora de histórias nata. Qual é a primeira frase do capítulo de abertura da sua presidência?

A mensagem é bem simples: imagine.

Esse é o seu lema, certo?

Sim, Imagine o Rotary.

Como você desenvolveu esse lema?

Imagine para mim diz respeito aos nossos sonhos e à obrigação de correr atrás desses sonhos para realizá-los. Quero que as pessoas identifiquem os objetivos que desejam alcançar e usem o Rotary como um veículo para chegar lá. Temos um leque grande de oportunidades à nossa frente, mas precisamos canalizar nossas energias para que tomemos decisões sustentáveis e impactantes sobre o que fazemos. A coisa mais poderosa para um associado é poder dizer: “Eu tenho uma ideia”. E depois, compartilhar e expandir essa ideia com outros para descobrir um meio de colocá-la em prática. Imagine é uma palavra que empodera, que dá permissão a quem deseja tornar o mundo melhor que entre em ação agora. Nós podemos imaginar, ainda mais por fazermos parte dessa família.

O que é liderança contemporânea e como seu estilo de liderança se encaixa nesse conceito?

Nos últimos dois anos, temos falado sobre o que realmente importa para nós e o que pode ser descartado, por não nos servir mais. Agora podemos focar em como fazer as coisas um pouco diferente e, mais importante ainda, de forma mais autêntica. Como podemos ser verdadeiros e honestos com nós mesmos sobre o que queremos fazer, ao que queremos nos dedicar e como podemos apoiar melhor uns aos outros, não apenas como amigos e vizinhos, mas como seres humanos?

A partir de uma perspectiva de liderança contemporânea, precisamos tirar o melhor do pior. Vimos líderes mundiais transmitindo mensagens de suas cozinhas e dos seus home offices. 

Aprendemos a ser diferentes e a apreciar mais as experiências reais dos outros. Nós, no Rotary, sempre fomos bom nisso. E este é o nosso momento de brilhar.

Que pontos fortes e fracos você traz para a presidência?

Tenho orgulho de ser uma conectora. Gosto de conectar pessoas e gosto de conectar pessoas a histórias. Quero aproveitar isso. Acho que meus pontos fortes também são comunicação e visão de que podemos mudar um pouco a maneira como operamos. A coisa mais importante que podemos fazer é garantir que cada associado entenda o que é fazer parte desta grande organização. Podemos passar essa mensagem de várias maneiras, além de meramente enviar um e-mail. Trata-se de dar um sentido para as pessoas quererem ficar a par do Rotary.

Uma das coisas que quero fazer são lives logo após as reuniões do Conselho Diretor, para contar o que a nossa organização está fazendo. E, ao dar as notícias do que foi definido no 18º andar da Sede Mundial, em Evanston, quero explicar o que isso significa para a experiência nos clubes. Podemos contar essa história? Também pretendo usar algumas das ferramentas mais recentes; por exemplo, quando viajar levarei minha pequena câmera GoPro. Minha intenção é produzir minha própria presidência, conforme ela vai acontecendo. Quero mostrar o que acabei de ver e o que aquela pessoa acabou de me dizer.

Uma fraqueza? Encontrar equilíbrio. Deixo um pouco a desejar quando se trata de cuidar de mim mesma, como comer de forma mais saudável, fazer exercícios, arranjar tempo para amigos e familiares. Acho que isso remete ao que estamos vivendo na pandemia. Todos nós tivemos a oportunidade de apertar o botão de pausa. Às vezes, dedicamos todo tempo e energia a algo em que estamos trabalhando, quando talvez isso não seja o melhor a fazer. Podemos ser mais fortes quando cuidamos de nós mesmos.  

Acho que aprendemos isso durante a pandemia; pelo menos eu aprendi.

Uma das coisas da qual eu mais me orgulhava na vida era de não deixar a peteca cair. Estou em um momento onde há muita coisa acontecendo e, ao mesmo tempo, me dei permissão para deixar algumas petecas caírem. 

Hoje em dia, as pessoas se comunicam de tantas forma, seja por e-mail, mensagem de texto, WhatsApp, Facebook, LinkedIn ou Twitter. Eu mesma tenho dois telefones. É uma loucura. Então, eu me dei permissão para não ser escrava do meu telefone. Senti necessidade de estar um pouco mais presente. Eu poderia literalmente ficar conectada 24 horas por dia, mas isso não é bom para ninguém.

Todos sabem que você gosta de abraçar as pessoas. Então, o que substitui o abraço hoje em dia?

Essa é uma pergunta difícil. Acho que cumprimentaremos com cotovelos por um bom tempo, talvez um tapinha no ombro aqui e acolá, mas parece que ainda teremos que esperar mais um pouco para nos abraçarmos novamente.

Este artigo foi publicado na edição de março de 2022 da revista Rotary.


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