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O pé-torto tem tratamento; vamos divulgar!

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Jennifer Trevillian não sabia nada sobre pé torto até que, em 2000, sua filha nasceu com um dos pés torcido. Um médico recomendou cirurgia, mas ela ficou se perguntando se não havia outra maneira. 

Buscando conselhos em grupos de apoio on-line, Jennifer ficou sabendo de um tratamento não cirúrgico que utilizava uma série de moldes de gesso e aparelhos para ir virando suavemente o pé em direção à posição certa. Poucas semanas antes da cirurgia da bebê de 4 meses, ela decidiu testar este tratamento e passou a dirigir oito horas por semana entre sua cidade (Chatham, EUA) e a clínica do Dr. Ignacio Ponseti, o médico pioneiro no método, que ficava em Iowa City.  

“Ele consertou o pé dela no período em que estávamos esperando ela crescer um pouco mais para passar pela cirurgia reconstrutiva”, lembra Jennifer. “Desde que a minha filha nasceu, eu me sentia como se estivesse carregando um fardo e, quando o tratamento foi iniciado, todo aquele peso foi tirado dos meus ombros e eu finalmente senti que ela ficaria bem.”

Kelly Trevillian com o Dr. Ignacio Ponseti, o pioneiro no uso do método não-cirúrgico para corrigir esta condição, que não é tão rara como alguns podem pensar.

Foto cedida por Jennifer Trevillian

Em média, uma em cada 750 crianças nasce com pé torto, representando mais de 175.000 nascimentos marcados por esta má formação congênita em que o bebê nasce com um ou ambos os pés virados para dentro. Hoje, o método Ponseti é rotineiro nos EUA e em muitos outros países desenvolvidos. Ele provou ser 95% eficaz na restauração da mobilidade e da aparência externa dos pés. Há crianças que passaram pelo tratamento e vieram a se tornar atletas famosos, como Troy Aikman, Mia Hamm e Kristi Yamaguchi.   

No entanto, em muitas partes do mundo, médicos e pais não conhecem o método Ponseti. É comum a deficiência não ser tratada, o que faz com que o portador ande mancando pelo resto da vida e, dependendo da cultura, seja marginalizado e forçado a viver na pobreza. Os que passam por cirurgia podem vir a ter músculos enfraquecidos e muita dor na idade adulta.  

As principais barreiras são a falta de consciência pública e a necessidade de formar mais médicos. Associados do Rotary em todo o mundo estão superando esses obstáculos com os Subsídios Globais da Fundação Rotária. Equipes de especialistas ensinaram médicos de vários países e de diferentes continentes, como Colômbia e Brasil até Índia e Bangladesh, a tratar os pacientes com o método Ponseti que, apesar de simples, requer treinamento presencial. Os Rotary Clubs estão fornecendo transporte às clínicas, informações sobre o tratamento e hospedagem às famílias.  

“Há uma falta de conscientização em muitos países de que o pé torto é algo que dá para tratar, especialmente nos países com poucos recursos”, diz Tomeka Petersen, copresidente do Grupo Rotary em Ação pela Cura do Pé Torto, lançado em 2015. 

Embora Ponseti tenha desenvolvido seu método na década de 1940, ele se tornou significativamente mais predominante no século XXI, de acordo com um estudo de 2014 publicado no World Journal of Orthopedics. Àquela época, o método era usado em 113 países membros das Nações Unidas, mas isso ainda representava apenas 59% dos países do mundo, apontou o estudo.

Em outubro o Dr. José Morcuende (à esquerda), autoridade líder no tratamento do pé torto, participou de um painel na Organização Mundial da Saúde, em Genebra. Morcuende treinou com Ponseti e assumiu o controle da clínica em 2009, após a morte do médico pioneiro.

Foto: Monika Lozinska

Segundo o Dr. Morcuende, que é do Rotary Club de Iowa City, além da falta de treinamento adequado alguns médicos são motivados a recomendar a cirurgia por causa de um incentivo financeiro. A operação custa dezenas de milhares de dólares nos EUA, em comparação aos poucos milhares de dólares se escolhido o método Ponseti. 

”As cirurgias muitas vezes causam complicações e dor em longo prazo, o que requer operações adicionais”, acrescenta o Dr. Morcuende. Ele é diretor da Associação Internacional Ponseti, com sede em Iowa, e um dos principais colaboradores do Grupo Rotary em Ação. 

Desde que os associados do Rotary formaram o grupo, os Subsídios Globais têm financiado projetos de ensino do método Ponseti a ortopedistas na América Latina, ampliando o uso do método no Brasil, México, Bolívia, Argentina, Equador, Colômbia e Honduras.  

O investimento rendeu bons frutos. Para ilustrar isso, vamos citar o exemplo do Brasil. Um projeto de 2016 no Brasil, financiado por US$ 193.591 provenientes da Fundação Rotária e de distritos americanos e brasileiros, possibilitou o treinamento completo de 50 ortopedistas. Isso equivale a US$ 3.872 por médico. Se cada um deles tratar 50 novos pacientes por ano, por 20 anos, eles terão ajudado coletivamente 50.000 pessoas, o que significa que o investimento no treinamento de cada profissional saiu por somente US$ 3,87 por paciente. 

O sucesso também está vindo de outras maneiras. Na Colômbia, o governo adotou o tratamento e está em processo de integração do método Ponseti ao seu sistema de saúde, conforme informado por Astrid Medina Cañon, presidente da Sociedade de Ortopedia Pediátrica da Colômbia e associada do Rotary Club de Bogotá Centenario.

Em números

  1. 1 em cada 750

    crianças nasce anualmente com pé torto

  2. Pelo menos 1 milhão

    dos casos não são tratados

  3. 95%

    é o grau de eficácia com o método Ponseti

Ter o apoio do governo ajudará a garantir que as cerca de 800 crianças nascidas a cada ano com pé torto na Colômbia sejam tratadas com o método Ponseti, recebendo os aparelhos especiais que devem ser usados à noite por até cinco anos após a remoção do gesso final, para evitar a volta do problema. “Vai funcionar do mesmo modo que as vacinas”, diz Medina Cañon. “As crianças colombianas têm direito a vacinas pagas pelo governo.” 

Medina Cañon acha gratificante ver crianças com pés perfeitamente retos alguns meses depois de chegarem à sua clínica com uma deformidade que, de outra forma, as excluiria da sociedade. Crianças com pé torto são às vezes encaminhadas à adoção. 

Pais colombianos e seus filhos, que enfrentaram uma vida inteira de incertezas, sabem que terão um futuro melhor do que imaginavam graças ao tratamento Ponseti. 

“Eu jamais ouvi falar do método Ponseti”, disse Alejandra Orjuela, que descobriu logo no seu primeiro ultrassom que o filho nasceria com pé torto. “Foi o médico que explicou tudo, como o método realmente funciona, como o gesso corrige o pé”, informou ela em vídeo produzido como parte de um projeto de Subsídio Global.   

Outra mãe se lembra de quando chorava toda vez que tinha que trocar as roupas do filho, durante as primeiras semanas após o nascimento dele. “Nossa maior preocupação era como seria a vida dele na fase adulta, vivendo com este problema”, ressalta Victoria Beltrán no vídeo. “O início do tratamento me encheu de otimismo e me renovou.”

Após se formar na Universidade de Illinois, Kelly Trevillian iniciou seu mestrado.

Foto cedida por Jennifer Trevillian

Jennifer, que agora vive em Mahomet, no estado de Illinois, experimentou um alívio semelhante quando começou a levar sua filha à Iowa semanalmente para substituir o gesso em sua perna esquerda. Ela ficou inspirada a divulgar sua experiência e a grande utilidade do método Ponseti nos seus grupos de apoio.  “Nós fornecemos dicas, incentivo e apoio àqueles que estão passando pelos estágios do gesso e dos aparelhos”, diz ela. “Há muito estigma social e desconforto quando um pai sai na rua com seu filho engessado ou usando aparelho.” 

Jennifer fez parte de um movimento que, segundo o Dr. Morcuende, é responsável pelo aumento da conscientização sobre o método Ponseti. O movimento persuadiu médicos nos EUA a aprender o tratamento, mostrando os resultados alcançados pelas crianças que  não passaram pela cirurgia. 

Kelly Trevillian está com 23 anos e faz pós-graduação em patologia da fala na Universidade de Wisconsin, em Madison. Às vezes, ela se pergunta o quanto sua vida teria sido diferente e quais desafios teria que vencer se tivesse sido operada quando ainda bebê. Muitos que a conhecem não sabem que ela nasceu com pé torto.  

“Sempre que falo que nasci com pé torto, as pessoas nem sequer sabem o que é isto e, quando descobrem, elas ficam surpresas”, informa. “Hoje mesmo eu falei sobre o assunto com alguém e a reação foi: ‘Eu não fazia ideia’. Esta surpresa acontece por eu não ter problema nenhum de locomoção; ando normalmente.”

Artigo publicado originalmente na edição de abril de 2023 da revista Rotary.

O Grupo Rotary em Ação pela Cura do Pé Torto é líder global no apoio ao tratamento com o método Ponseti e cuidados adequados para os portadores da deficiência.